João Silva, Jornalista
“De todas as forças que contribuem para um mundo melhor, nenhuma é tão indispensável e tão poderosa quanto a esperança. Sem esperança, os homens são apenas meio vivos. Com esperança, eles pensam e sonham e trabalham.”
Pediram-me que escrevesse sobre o IPO de Lisboa e, quase de imediato, ocorreu-me esta frase do norte-americano Charles Sawyer, pois resume o que senti desde o primeiro momento em que entrei no IPO para tratar a minha doença: esperança, sonho, trabalho e progresso. Eu era um jovem assustado pela dúvida, pai de um menino, o João, com pouco mais de um ano, e sentia medo do cancro e, até, do hospital que era suposto tratar-me. Mas a verdade é que esse monstro que é o medo e que se juntou, na altura do diagnóstico, com outro, o cancro, foi diminuindo de tamanho graças às pessoas que ali trabalham e que me embalaram, desde esse primeiro momento, numa onda de positivismo, progressão e esperança, pilares de uma cultura que está enraizada nos médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico, auxiliares, administrativos, enfim, em todos que trabalham no IPO.
Não há uma fórmula mágica para vencer o cancro, claro que não, mas acredito que, além dos químicos, foi também essa cultura que me ajudou a viver uma vida o mais normal possível enquanto estava doente e também, por fim, a vencer o cancro. E fê-lo não uma, não duas, mas por três vezes.
Doença inicial e duas recidivas graves fizeram com que fosse sujeito a longos e complicados ciclos de quimioterapia, além de dois autotransplantes de medula óssea. E foi durante esses autotransplantes, num pequeno “aquário” na Unidade de Transplante de Medula do IPO, que escrevi um diário que acabou por resultar num livro, cujo título é “O sofrimento pode esperar”, frase que aprendi na minha vivência no IPO, e ao qual a editora que publicou o diário entendeu acrescentar um subtítulo, “Diário de três vitórias sobre o cancro”, subtítulo esse que aceitei sem reservas por entender que se refere menos a mim e mais aos verdadeiros heróis desta história: a minha família, os meus amigos e, principalmente, todos os colaboradores do IPO que, com o seu trabalho, dedicação, competência e carinho contribuíram, e contribuem ainda hoje, sempre que vou a uma consulta de rotina, para que eu vivesse para ver o meu filho crescer e para que pudesse, hoje, render-lhes, uma justíssima homenagem com estas humildes palavras.
Obrigado por tudo!