Os tumores neuroendócrinos são raros, embora o número de casos diagnosticados tenha vindo a aumentar. Atualmente estima-se o surgimento de cinco novos casos por 100 mil habitantes por ano. Têm origem nas células neuroendócrinas (capazes de produzir e libertar hormonas e neurotransmissores no sangue) que se encontram em quase todos os órgãos e geralmente crescem devagar.
Cerca de dois terços destes tumores desenvolvem-se no aparelho digestivo: estômago, duodeno, intestino delgado, cólon, reto, apêndice e pâncreas. O terço restante é detetado no pulmão. Fazem ainda parte deste grupo o carcinoma medular da tiroide, os parangangliomas e os feocromocitomas.
Para alertar a população, bem como os profissionais de saúde para a doença, estabeleceu-se a data 10 de novembro como o Dia de Sensibilização para os Tumores Neuroendócrinos. No Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil (IPO Lisboa) os doentes com este diagnóstico são avaliados em consulta multidisciplinar, que reúne várias especialidades, criada já em novembro de 2009.
“Os tumores neuroendócrinos são um grupo muito heterogéneo de tumores”, explica a médica Isabel Claro, diretora do Serviço de Gastrenterologia do IPO Lisboa. Alguns são detetados através de exames de diagnóstico como por exemplo, no caso do estômago, uma endoscopia realizada por outro motivo. “Muitos dos que se desenvolvem no reto também são detetados quando de faz colonoscopia de rastreio.”
Quase sempre assintomáticos
A especialista acrescenta que, na grande maioria dos casos, estes tumores são assintomáticos, são os chamados “não funcionantes” e, portanto, “detetados muitas vezes no contexto de queixas inespecíficas”. Os “funcionantes” são aqueles que têm manifestações clínicas como diarreia ou ‘flushing’ (rubor cutâneo): “Os episódios de ‘flushing’, ficar vermelho como se fosse um afrontamento, se forem associados a uma diarreia são sintomas que têm alguma especificidade. Mas a diarreia, só por si, não”.
No caso dos tumores do pâncreas, prossegue, “há um em particular – o insulinoma – em que há um excesso de produção de insulina e isso manifesta-se por episódios de hipoglicémia. Se o açúcar baixar muito, as pessoas podem inclusivamente entrar em coma. Mas são situações raras”.
Aliado à falta de sintomas, a doença é transversal ao género, ou seja, afeta igualmente homens e mulheres, e o seu aparecimento não é mais frequente nas idades mais avançadas como acontece com outras doenças oncológicas. “Não é como os outros tumores, em que a idade habitual é a sexta ou a sétima década de vida”, sublinha. Devido à sua raridade e poder ser confundido com outras doenças, o símbolo escolhido para estes tumores foi uma zebra – cujo som dos cascos pode ser confundido com o som dos cavalos.
“A nossa consulta multidisciplinar, que faz agora 13 anos, começou justamente pela necessidade que sentíamos de discutir em conjunto algumas situações que, por serem pouco frequentes, nos ofereciam dúvidas sobre a melhor forma de tratamento”, conta a médica que coordenou a consulta durante 12 anos. Agora cabe ao Serviço de Oncologia Médica, dirigido pelo médico António Moreira, a sua coordenação.