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01 de Março 2023

Quebrar a rotina do hospital

O dia a dia do trabalho de educadoras e professoras na Pediatria do IPO Lisboa. Um trabalho que quebra a rotina de consultas, tratamentos e exames, centrando-se apenas nas crianças e jovens.

Um diagnóstico de doença oncológica transforma a vida de quem está doente e de todos à sua volta. O papel das educadoras e professoras no Serviço da Pediatria é, por isso, essencial. Para dar continuidade às rotinas que as crianças e jovens tinham fora do hospital.

 

Alegre, colorido e cheio de vida. Assim é o 7º piso do IPO, onde funciona a Pediatria. As educadoras, no seu trabalho diário, asseguram o desenvolvimento de várias atividades, sempre adaptadas a cada uma das crianças e a cada um dos espaços do serviço – internamento, sala Lions (sala de espera do ambulatório) e Hospital de Dia.

 

“As crianças vêm para ser tratadas da doença, mas não deixam de ser crianças no seu todo. Temos de assegurar que o tempo que passam no hospital é um tempo valioso para o seu desenvolvimento, porque é importante dar continuidade às rotinas que tinham antes da doença”, explica a educadora Maria Miranda.

 

 

“Temos de conhecer a criança e a sua família. Com muita serenidade e cautela conseguimos motivá-los e propor-lhes diversos desafios, quer para eles, quer para os pais. Porque aqui todos trabalham”, conta-nos a educadora Cátia Tomás, com um sorriso nos lábios.

Ir à escola…cá dentro

 

Também é essencial apoiar as crianças no seu percurso escolar. E na Pediatria, as crianças também vão à escola…cá dentro.

“Fazemos uma parceria com as várias escolas para que a rotina escolar se mantenha, sempre de acordo com a sua dinâmica. No fundo, funcionamos como um professor de ligação, para que as nossas crianças consigam ter o máximo de experiências iguais às dos colegas que estão em sala de aula. É importante que estes laços se mantenham”, explica a professora Dina Ribeiro.

O trabalho pedagógico é desafiante e requer uma constante atualização. A faixa etária destes alunos é abrangente – dos zero aos 18 anos. – e se nos mais pequenos o trabalho está mais facilitado, nos adolescentes torna-se mais complexo. “A escola é uma das preocupações dos pais e das crianças, mas é mais evidente nos alunos do secundário. A doença não os impede de continuarem a batalhar pelos seus objetivos. Empenham-se ao máximo para conseguir entrar na faculdade e muitas vezes os exames nacionais são feitos aqui no hospital”, refere a professora Sandra Brites.

Mas há sempre tempo para ‘desligar’ do compromisso escolar. E esse é, também, um tempo fundamental. Nestas situações, “tentamos proporcionar-lhe atividades de lazer e tempos livres que sejam do seu agrado. Queremos que usufruam daquilo que a doenças os privou, o lado social das suas vidas. refere a educadora Maria. “Uma ida ao futebol ou ao teatro, um atelier de expressão plástica ou a possibilidade de conhecer um jogador de futebol são momentos que fazem toda a diferença”.

São rotinas que marcam crianças, famílias e equipa educativa. “Há uns anos dei apoio a uma menina com uma situação clínica complicada, mas muito determinada e empenhada. Quando chegava de manhã já tinha um recado na porta do quarto com a hora a que podia ir ter com ela. Agora vive fora de Portugal e escreveu um livro onde me incluiu nas dedicatórias. São situações que nos marcam e por isso é que é tão gratificante ser professora”, recorda Magda Cabral.

Por entre jogos, bonecos, tintas e múltiplas atividades lúdicas, o dia a dia da Pediatria é feito de muitas histórias. “A criança dos dois aos dez anos brinca naturalmente. A partir dessa idade também temos de chegar até eles, porque todos nós gostamos de brincar. Só temos de reavivar as memórias dessas experiências que são satisfatórias, mesmo que eles pensem que já passaram essa fase. É possível, faz falta e é fundamental”, explica a educadora Cátia.

Há momentos especiais. “É ótimo quando chego de manhã e tenho bilhetes deles na porta do gabinete. É gratificante quando nos dizem obrigado, gosto de ti, estive à tua procura, ou simplesmente, um abraço da família que nos agradece aquele momento. Ou quando os encontramos, tempos depois, já nas consultas de rotina e já não os reconhecemos”, contam as educadoras. “Porque, entretanto, os nossos meninos cresceram”.