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31 de Março 2023

Doar sangue, um elogio à vida

O Dia Nacional do Dador de Sangue, assinalado a 27 de março, foi o mote para falar sobre a importância da dádiva de sangue e o trabalho desenvolvido no Serviço de Imunohemoterapia do IPO Lisboa. Tem a palavra a médica e diretora do serviço, Dialina Brilhante.

Nos últimos anos, mesmo em tempo de pandemia, temos assistido no IPO Lisboa a um aumento de doações de sangue total e ao desenvolvimento do programa de aférese de colheita de multicompetentes. Um fluxo regular de dadores de sangue total e um programa de colheita de componentes de aférese (plaquetas, glóbulos vermelhos ou plasma) são determinantes para os doentes e para garantir stocks adequados.

 

Hoje em dia, este é um programa consolidado e essencial, do ponto de vista dos doentes, permitindo ainda aos nossos imunohemoterapeutas e enfermeiros uma área de diferenciação profissional. Para minimizar a utilização inadequada dos diferentes componentes sanguíneos, implementámos ainda o programa Patient Blood Management, com enfoque na correção da anemia ferropénica dos doentes, numa lógica de otimização, tanto em termos de parâmetros hematológicos, como de hemóstase (resposta fisiológica normal do corpo para a prevenção e interrupção de sangramento e hemorragias). Este tipo de anemia caracteriza-se pela redução do número de glóbulos vermelhos por défice de ferro e afeta cerca de 12% da população mundial, maioritariamente indivíduos com condições socioeconómicas deficitárias. Se essas carências forem corrigidas antes de, por exemplo, um procedimento cirúrgico, o doente poderá não precisar de ser transfundido.

O sangue é um produto biológico fundamental à vida que não tem substitutos. Os dadores de sangue têm, por tudo isto, um papel fundamental no dia a dia do Instituto. A doação de sangue é anónima, benévola e voluntária, princípios éticos indissociáveis deste ato, e estão na base de todo o processo relacionado com o sangue.

Nos últimos anos, mesmo em tempo de pandemia,
temos assistido no IPO Lisboa a um aumento
de doações de sangue total e ao
desenvolvimento do programa de aférese
de colheita de multicompetentes.

A seleção de dadores é o inicio da cadeia transfusional. Passa pela colheita, separação, armazenamento e distribuição dos componentes sanguíneos, sendo finalizado à cabeceira do doente que necessita de suporte transfusional. Neste percurso, todos os passos são controlados, de forma a garantir a segurança de dadores, recetores e profissionais de saúde.

 

Quando falamos em doação de sangue, esta pode ser de sangue total ou por aférese. A principal diferença nestes dois tipos de doação é que o primeiro reflete uma colheita de 450 ml de sangue total, posteriormente processado nos diferentes componentes – eritrócitos, plaquetas e plasma.

A colheita por aférese é uma colheita seletiva através de um aparelho automático (separador celular), sendo os restantes componentes sanguíneos restituídos ao dador, através da mesma agulha. Permite obter (se o dador tiver condições hematológicas para tal), os mesmos componentes que colheríamos numa unidade de sangue total, mas de uma forma mais eficiente. Com esta última técnica podemos colher uma unidade terapêutica de plaquetas, que designamos de concentrado unitário de plaquetas (CUP), enquanto que na doação de sangue total precisamos de quatro a cinco dadores para obter uma unidade terapêutica.

 

Em 2022, a colheita in house garantiu cerca de 60% do total de componentes transfundidos, representando 68% dos concentrados de eritrócitos, 89% dos CUP (concentrado unitário de plaquetas) e 31% das Pools de Plaquetas.

 

Manter e promover este ritmo de crescimento constitui um dos grandes objetivos do serviço. É uma parceria de elogio à vida, assente num suporte organizacional que tem vindo a ser desenvolvido e melhorado ao longo dos anos.

Dialina Brilhante
Médica e diretora do Serviço de Imunohemoterapia do IPO Lisboa