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27 de Julho 2022

Cabeça e pescoço: atenção aos sintomas

Por ano são diagnosticados em Portugal dois mil casos de tumores da cavidade oral, faringe e laringe. Deteção precoce melhora possibilidade de cura.

O cancro da cabeça e pescoço engloba vários tumores, como os localizados nas vias aerodigestivas (ou seja, por onde passam o ar e os alimentos na cabeça e pescoço – a boca, o nariz, a faringe e a laringe), os tumores das glândulas salivares, os da tiroide e os da pele da cabeça e pescoço.

 

Em Portugal, surgem por ano cerca de dois mil novos casos de tumores da cavidade oral, da faringe e da laringe. Estes são os cancros da cabeça e pescoço mais frequentes e que causam, também anualmente, mais de 800 mortes no país, explica o médico Pedro Gomes, diretor do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil (IPO Lisboa).

 

De acordo com o especialista, apesar de grave, a doença “pode ser controlada se tratada a tempo, pelo que importa agir na prevenção e no despiste precoce”. No entanto, a mortalidade global destes tumores ao fim de cinco anos é de 50%, porque muitos dos doentes “são diagnosticados tardiamente”.

Na data em que se assinala o Dia Mundial do Cancro da Cabeça e Pescoço, a 27 de julho, Pedro Gomes chama à atenção para alguns dos sintomas que não devem ser desvalorizados. “Feridas na pele ou orais (aftas), que se arrastem por várias semanas, manchas brancas ou vermelhas, nódulos no pescoço ou na face, dificuldade em engolir, alterações da voz, tosse persistente, são sintomas que devem levar a pessoa a consultar o médico assistente ou o médico dentista”, sublinha.

 

Em geral, prossegue, estes tumores surgem “a partir dos 50 anos e são mais frequentes no sexo masculino”. Os principais fatores de risco são o consumo de tabaco, a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas, os traumatismos crónicos, a predisposição genética e a infeção pelo papilomavírus humano (HPV). Porém, diz Pedro Gomes, “há cada vez mais casos destes tumores em mulheres”.

 

Os cancros da cabeça e pescoço englobam também os tumores relacionados com as glândulas salivares, a tiroide e os gânglios. Estes, em geral, “manifestam-se como nódulos que vão crescendo, são frequentemente indolores e só tardiamente dão outros sintomas”. Ainda neste âmbito estão incluídos os cancros da pele na área do pescoço e da face. “Todas as manchas que cresçam, ganhem feridas, bem como outras lesões que não curem em poucas semanas (duas a três) devem ser vistas pelo médico”.

 

Mais de 500 cirurgias até junho

 

No primeiro semestre de 2022 foram efetuadas 575 cirurgias ao cancro da cabeça e pescoço no IPO Lisboa e realizadas 5.042 consultas. Destas, 904 foram primeiras consultas. Segundo Pedro Gomes a pandemia de COVID-19 “atrasou claramente” o diagnóstico de novos doentes.

 

“Vieram com tumores muito mais avançados”, em estados que já não se verificavam “há mais de uma década”, conta. Na sua opinião, por um lado, todo o circuito de referenciação e diagnóstico “passou a ser mais lento”. Por outro, “as pessoas levaram mais tempo a chegar ao primeiro contacto” com os serviços de saúde.

No diagnóstico, no tratamento e na recuperação dos doentes a abordagem tem de ser multidisciplinar. No bloco operatório intervêm médicos de cirurgia geral, cirurgia maxilofacial, estomatologia e otorrinolaringologia (ORL). “E ainda contamos com a colaboração próxima das especialidades de oftalmologia, cirurgia plástica e medicina interna”, acrescenta.

 

No IPO Lisboa são tratados pelo serviço os tumores do lábio, cavidade oral e orofaringe, os tumores cutâneos e os tumores da tiroideia e paratiroideia. Bem como os sarcomas das partes moles, os tumores das glândulas salivares, os tumores ósseos na área de cabeça e pescoço e as metástases ganglionares de tumores conhecidos e de tumores primários ocultos.

 

Após o tratamento, a reabilitação funcional dos doentes é difícil na maioria dos casos e também aqui é necessária uma abordagem multidisciplinar. Desde logo, esclarece o médico, a importância do enquadramento social dos doentes, passando pela fisioterapia motora, da fala e voz e da deglutição, sem esquecer a psiquiatria para os ajudar a lidar com todas as alterações que a doença traz para o seu dia-a-dia.